terça-feira, 7 de novembro de 2017

Hygge à portuguesa. É possível?


Um estilo de vida hygge
Tomei contacto com o termo «hygge» há uns anos. Num livro (o que não surpreende, vindo de mim) de Dan Buettner. O tal livro (“Thrive. Finding Happiness The Blue Zones Way”), falava do estilo de vida das populações mais felizes do planeta. Como não podia deixar de ser, dedicava um capítulo inteirinho à Dinamarca, tantas vezes considerado o país mais feliz do mundo. 

O que descobri na altura, é que o hygge faz parte da identidade cultural dos dinamarqueses. O que para mim explica em grande parte, porque são tão felizes, é que vários dos ingredientes da prática do hygge, são comuns ao que a ciência comprovou que nos pode tornar mais felizes. 

Para quem não sabe, o hygge significa literalmente «aconchego» e tem que ver com a arte de relaxar num ambiente caloroso, acolhedor e livre de stress. Trata-se de alcançar a felicidade através dos prazeres simples da vida. Envolve coisas como: ler aconchegado numa mantinha ao som da chuva que cai lá fora; deliciarmo-nos com uma refeição, que nos lembra a infância; acender umas velas e ouvir uma música agradável; jogar jogos de tabuleiro com os filhos; fazer reuniões agradáveis com a família ou amigos… 

A verdade é que os dinamarqueses fazem disto uma filosofia de vida.

Será possível um estilo de vida hygge em Portugal?

Entretanto questionei-me: “E por cá? Será possível um estilo de vida hygge à portuguesa?”. 

É certo que temos a vida um pouco mais complicada. Não temos um estado social tão forte, há imensas desigualdades sociais (o que cria comparações com os outros, quase sempre de forma negativa), sensação da ineficácia da justiça, não temos muita fé na classe política… enfim. Parece que estamos destinados ao insucesso.

Só que… não. A verdade é que independentemente da nossa nacionalidade, classe social ou experiência de vida, todos podemos experimentar o hygge! Basta investir tempo neste tipo de actividades - que felizmente, costumam ser gratuitas ou pouco dispendiosas. Qualquer um de nós tem capacidade para desfrutar de uma atmosfera acolhedora em boa companhia. Talvez a grande diferença entre nós e os dinamarqueses é que envolvemo-nos neste tipo de actividades de forma mais esporádica, enquanto que eles o fazem quase que diariamente.

Mas por cá também temos vantagens: um clima excelente, boa comida, facilidade de nos relacionar-mos com os outros. Na prática, só temos de ajustar alguns aspectos da nossa forma de estar na vida, para deixar-mos que o hygge faça parte dela.

O que os portugueses deveriam fazer diferente
1. Deveríamos de sensibilizar a sociedade para a importância do equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal. Isto significa evitar sair tarde do trabalho por sistema, ou trazer tarefas para casa. Temos que nos consciencializar que horas extra nem sempre significam mais produtividade! O problema é que nem sempre é fácil cumprir isto. Há patrões que não compreendem a importância deste equilíbrio e há colegas que olham sempre de soslaio para quem sai a horas. Contudo, sair a horas é fundamental, para termos tempo para fortalecer e desfrutar das nossas relações... e também para a nossa saúde física e mental.

2. Em casa, por vezes é importante limitar as tecnologias. Talvez pelo cansaço e comodidade, passamos muito tempo em frente à televisão, ou a navegar na Internet. Mas porque não experimentar ocupar esse tempo com um hobby, contando histórias interessantes ou jogando jogos de tabuleiro com os filhos?

3. Um ponto em que nos podemos inspirar nos dinamarqueses, é a sua forma de estar quando se reúnem com a família e os amigos:


a) Para que todos sintam o hygge, nestas ocasiões os problemas pessoais ficam lá fora. Há muito pouco negativismo e queixas, e não se abordam assuntos controversos como a política. É uma forma de evitar discussões e de ter conversas agradáveis.
b) Também não há competição entre as pessoas, ninguém é o centro das atenções ou domina a conversa. É preferível ser modesto para manter a reunião agradável!
c) Por último, quando estes encontros envolvem refeições ou outros preparativos, todos ajudam. A ideia é que não sejam uma ou poucas pessoas a fazerem o trabalho todo. As próprias crianças são incentivadas a colaborar.

Conclusão: é só uma questão de alterar alguns hábitos. Temos tudo para ser felizes, se permitirmos que o hygge faça parte da nossa vida.

Como pode ser o hygge à portuguesa

Podemos inspirar-nos nos hábitos dinamarqueses e aproveitar também o que temos de bom (e a que nem sempre damos valor).

Assim, podemos:

- Nos meses mais frios, aconchegar-nos numa manta e ler um bom livro, tal como os dinamarqueses.

- Aproveitar a nossa deliciosa gastronomia e fazer pratos reconfortantes. Saborear cada momento, desde a compra de produtos, passando pela confecção até ao degustar propriamente dito.

- Acender umas velas e ouvir uma música agradável.

- Organizar serões livres de tecnologia e jogar jogos de tabuleiro com os filhos.

- Organizar reuniões agradáveis com a família ou os amigos.

- Recriar um ambiente hygge em casa, que nos faça senti-la como um verdadeiro refúgio. Isto pode ser conseguido com uma iluminação suave, elementos da Natureza (jarras com flores, pedras da praia, galhos de madeira…), objectos vintage, prateleiras repletas de livros... Algo tipicamente dinamarquês, mas que nos pode inspirar, é o Hyggekrog - um recanto acolhedor onde nos podemos sentar confortavelmente, de preferência junto a uma janela. Nesse espaço podemos colocar almofadas e uma manta quentinha. É o lugar perfeito para um chocolate quente, enquanto lemos um bom livro.

- Com uma média de 300 dias de sol por ano, podemos aproveitar muitas actividades no exterior:
a) aproveitar as horas douradas, para assistir ao nascer ou pôr-do-sol;
b) passear mais na Natureza, seja nos parques da cidade ou na floresta;
c) conviver numa esplanada com os amigos;
d) fazer piqueniques em família;
e) aproveitar mais as nossas varandas (transformá-las num lugar aconchegante e passar lá mais tempo em actividades hygge);
f) explorar mais os nossos lugares encantadores (os quilómetros de costa, a montanha, os monumentos...).

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Em suma, o hygge pode fazer parte das nossas vidas.
Basta criar o hábito de realizar estas actividades com mais frequência.
E se o fizermos,
certamente seremos mais felizes!

Fotos: 1.ª Alisa Anton (Visual Hunt); 2.ª IntoxiKatex (Visual Hunt); 3.ª Danielle Maclnnes (Visual Hunt); 4.ª Stock Snap; 5.ª Mafalda S. (praia da Nazaré).
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"A Felicidade é o Caminho" também está aqui:

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